terça-feira, 22 de junho de 2010

Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo


Segundo levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é o maior consumidor do mundo de agrotóxicos. Que triste recorde. O Brasil também lidera o uso de agrotóxicos banidos em outro países. Em 2009, foram vendidas aqui 780 mil toneladas de agrotóxicos, com um faturamento estimado da ordem de 8 bilhões de dólares. A cultura que mais consome agrotóxico é a soja.
 
Para Rosany Bochner, especialista em toxicologia da Fiocruz, instituição parceira da Anvisa no trabalho de reavaliação dos agrotóxicos, “o Brasil está virando um grande depósito de porcarias. Os agrotóxicos que as empresas não conseguem vender lá fora, que têm indicativo de problemas, são empurrados para a gente”.
 
Segundo o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor, “o consumidor brasileiro está exposto a um risco sanitário inaceitável, que exige medidas rigorosas dos órgãos governamentais responsáveis, inclusive com a punição dos infratores”.Essa denúncia decorre do levantamento e análise da Anvisa, feito de junho de 2001 a junho de 2002, onde nada menos que 81,2% das amostras analisadas (1051 casos) exibiam resíduos de agrotóxicos e 22,17% apresentavam índices que ultrapassavam os limites máximos permitidos.  O tomate, o morango e a alface são os mais contaminados.
 
Atualmente, há cerca de 450 ativos usados na produção de agrotóxicos registrados na Anvisa e os pedidos para a concessão de mais licenças não param de chegar.Com a aplicação exagerada nas lavouras no Brasil, o uso de agrotóxicos está deixando de ser uma questão relacionada especificamente à produção agrícola e se transforma em um problema de saúde pública. Sofre o trabalhador, que aplica diretamente o pesticida, sua família, que mora dentro das plantações, e também o consumidor final. Tem também o impacto no ambiente, com a contaminação das fontes de água por agrotóxicos.
 
Os estudos publicados relatam que os diferentes agrotóxicos podem causar intoxicações e sub intoxicações agudas e crônicas, contribuindo para aumentar a incidência de má formações fetais, câncer, distúrbios endócrinos, neurológicos, cardíacos e pulmonares, além de problemas psiquiátricos como depressão. Estudos sobre os impactos dos agrotóxicos no Mato Grosso, demonstram que nas regiões com maior utilização de agrotóxicos é maior a incidência de problemas de saúde agudos e crônicos.
 
O sistema de produção de alimentos moderno privilegia a quantidade em detrimento da qualidade. O consumidor precisa se informar melhor acerca do que está introduzindo em seu organismo. Neste contexto o alimento orgânico surge como melhor alternativa para proteger a nossa saúde. O produto orgânico evita problemas de saúde causados pela ingestão de substâncias químicas tóxicas, protege a qualidade da água, a fertilidade do solo, a vida silvestre e são mais nutritivos. Incluir produtos orgânicos nas compras incentiva a produção e no longo prazo, e ajuda ar torna os orgânicos mais baratos.

Fontes:









domingo, 20 de junho de 2010

Pimentas vermelhas podem apresentar efeitos antiobesidade


Cientistas estão relatando nova evidência de que a capsaicina, principio ativo presente nas pimentas vermelhas, que conferem a elas aquele “ardor” típico deste condimento, pode causar perda de peso e diminuir os depósitos de gordura através de alterações benéficas em determinadas proteínas envolvidas neste processo. Estas descobertas , que podem levar a novas abordagens terapêuticas para obesidade, foram relatadas no Journal of Proteome Research.
Jong Won Yun e colaboradores, autores do estudo, assinalam que obesidade hoje é um problema mundial de saúde pública, estritamente relacionado à incidência de doenças como hipertensão arterial, doença cardiovascular, diabetes, etc. Estudos laboratoriais tem apontado que a capsaicina pode ajudar a combater a obesidade diminuindo o consumo de calorias, aumentando o metabolismo basal, reduzindo os depósitos de gordura e melhorando os fatores de risco cardiovascular. Contudo, os mecanismos pelos quais a pimenta opera estes efeitos ainda estão sendo investigados.
No estudo em questão, os pesquisadores alimentaram cobaias de laboratório com uma dieta obesogênica rica em gordura. Para um grupo de cobaias, além da dieta obesogênica, também receberam capsaicina da pimenta. O grupo que recebeu a capisaicina apresentou uma perda de 8% do peso corporal e alterações nos níveis de pelo menos 20 proteínas chave para o metabolismo da gordura. “ Estas alterações nos fornecem valiosos insights sobre os efeitos antiobesogênicos da capisaicina”, afirmam os autores do estudo.


Fonte:
1.   Joo et al. Proteomic Analysis for Antiobesity Potential of Capsaicin on White Adipose Tissue in Rats Fed with a High Fat Diet. Journal of Proteome Research, 2010; 100419142343045 DOI:

terça-feira, 8 de junho de 2010

Reduzir o consumo de sal nas populações pode ser a política mais barata e eficiente para reduzir mortes e gastos por doença cardiovascular

A Organização Mundial da Saúde(OMS), estabeleceu uma meta para a redução global do consumo alimentar de sal, e lançou uma campanha pedindo aos países para que a população reduza o consumo médio de sal para menos de 5 g/dia. Esse objetivo está baseado na evidência clara que nenhuma outra medida é tão rentável ou pode ser tão eficaz para a prevenção da hipertensão e da morbidade e mortalidade causadas por doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. O consumo de sal também foi relacionado com algumas formas de câncer e doenças respiratórias.
Estima-se que a maior parte do fardo da doença cardiovascular pode ser prevenido por meio de uma medida simples, barata e econômica – principalmente através de uma estratégia para reduzir o consumo de sal alimentar da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta é a abordagem mais eficaz para todos os países em quaisquer condições.
A maior parte das pessoas no mundo consomem bem mais sal do que necessitam. Segundo o Scientific Advisory Committee on Nutrition (Comitê de Consulta Científica sobre Nutrição), o consumo mais baixo de sal consistente com o estado saudável dos indivíduos ou das populações varia entre 1,75 a 2,3 g/dia; sabe-se de populações que sobrevivem com 0,5mg/0,2 mmol de sódio por dia (0,01g de sal)3. No entanto, nos países industrializados o consumo médio está em torno de 10g/dia. Alguns consomem muito mais (ex.: a Turquia teve em 2008 um consumo médio de 18,04g/dia. No Bangladesh, um estudo feito em 2008 de 100 pessoas – 50 hipertensivos e 50 normotensivos – deparou com um consumo médio de sal de 21 g/dia.5
Em 2003, a OMS e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) emitiram um relatório conjunto pedindo à população para reduzir o consumo de sal para menos de 5g/dia.
Um estudo recém-publicado pelo periódico British Medical Journal revela que uma redução para  5g no consumo diário de sal, é capaz de diminuir o risco de acidente vascular cerebral em 23% e o de doenças cardiovasculares em 17%.
Esse menor consumo de sal evitaria anualmente mais de um milhão de mortes por acidente vascular cerebral e três milhões por doenças cardiovasculares ao redor do mundo.
Cerca de 50% dos casos de doença das coronárias e 60% dos acidentes vasculares cerebrais são secundários a altos níveis da pressão arterial, e a quantidade de sal na dieta responde por boa parte desses números
O sal de cozinha é o cloreto de sódio. Cada grama de sal contém 40% de sódio(0,4g). O sódio é um  íon essencial para o organismo. Quando o sódio é consumido em excesso, o sistema cardiovascular pode ficar sobrecarregado,porque o sódio retém água no organismo.
Para as pessoas saudáveis, a dose máxima de sal recomendada pelo Ministério da Saúde é de 5 g por dia (2.000 mg de sódio). Os brasileiros, no entanto, consomem em média mais de 10 gramas/dia. A diminuição do consumo de sal traria tantos benefícios à população quanto o combate ao tabagismo, à obesidade e a promoção do uso de medicamentos para tratar hipertensão e os níveis elevados de colesterol.
Para combater o abuso de sal existem duas estratégias: uma individual, outra pública. A individual é baseada na conscientização de que reduzir o consumo faz bem à saúde; a pública tem a finalidade de convencer os fabricantes de alimentos processados industrialmente a colocar menos sal em seus produtos.
Como cerca de 70% do sódio ingerido na dieta do brasileiro médio vem dos alimentos industrializados. A conscientização individual tem impacto limitado. Cabe às autoridades responsáveis estabelecer regras que limitem a quantidade de sódio em molhos prontos, condimentos, salgadinhos, picles, conservas, pizzas, sopas de pacote, embutidos, queijos e outros alimentos. Países como Finlândia, Inglaterra, Japão e Portugal já o fizeram com resultados altamente positivos. 
Um dos maiores problemas causados pelo excesso de sal na alimentação é o aumento dos níveis da pressão arterial. Por outro lado, uma série de estudos tem demonstrado que aumentar o consumo de potássio é capaz de reduzir a pressão arterial. Esses estudos apontam que a redução do conteúdo de sódio a longo prazo e sua substituição por potássio é capaz de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e essa já é uma recomendação dietética consensual.

Uma dieta com pouco sódio e muito potássio é melhor do que aquela com a simples restrição de sódio. Para inserir mais potássio na dieta deve-se consumir mais frutas e verduras. Para reduzir o consumo de sódio, o primeiro passo é retirar o saleiro da mesa e lembrar que algumas ervas podem temperar a comida tão bem como o sal. Desde que 70% do sal da dieta provém de alimentos processados, é fundamental evitar as conservas, o "fast food", enlatados, carnes processadas e embutidos.

Fontes:
1. Organização Mundial da Saúde (2007) Reducing salt intake in populations: Report of a WHO forum and technical meeting, Paris 2006. p 3. www.who.int/dietphysicalactivity/Salt_Report_VC_april07.pdf.

2. Scientific Advisory Committee on Nutrition (Comitê Científico Consultivo sobre Nutrição) (RU). (2003). Salt and Health. p 23.

3. A comprehensive review on salt and health and current experience of worldwide salt reduction programmes (Uma análise abrangente sobre o sal e a saúde e a experiência atual dos programas globais de redução do sal). J Hum Hypertens 25 de dezembro, 1‐22. Disponível no site http://www.nature.com/jhh/journal/ vaop/ncurrent/ pdf/jhh2008144a.pdf



4. Strazzullo, P et al. (2009). Salt intake, stroke, and cardiovascular disease: metaanalysis of prospective studies. BMJ 339: b4567. DOI:10.1136/bmj.b4567.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Níveis altos de açúcar em seu sangue podem “caramelizar” você



Quem nunca viu como se faz uma calda de caramelo? Você aquece o açúcar com um pouco de água até ele adquirir a consistência caramelizada. Pois bem, o que talvez você não saiba, é que este processo também acontece dentro de você. O fenômeno da GLICAÇÃO, termo técnico correto para este fenômeno de caramelização, acontece quando uma molécula de açúcar como glicose ou frutose, se liga de forma não enzimática a uma molécula de proteína, gordura ou DNA, alterando, de forma reversível ou não, a estrutura e funcionamento destas moléculas.
O fenômeno da glicação acontece em maior proporção quanto maior for o nível de açúcar na corrente sanguínea. Se os níveis de açúcar não permanecem altos por muito tempo, esta ligação, inicialmente fraca, se desfaz e a estrutura da proteína não é alterada. No entanto, se níveis altos de açúcar persistem por muito tempo na circulação, como no caso do diabetes mellitus, mais moléculas de açúcar se ligarão à proteína , e através de uma sequência de reações químicas complexas conhecidas como ”reações de maillard”, nascerá uma molécula nova conhecida pelo nome de AGE (do inglês, Advanced Glycation End-products, ou produto final de glicação avançada). 
Considerados importantes mediadores patogênicos das complicações diabéticas, os AGEs são capazes de modificar, irreversivelmente, as propriedades químicas e funcionais das mais diversas estruturas biológicas. A pesquisa científica nos últimos 20 anos tem associado os AGEs a quase todas as complicações do Diabetes e à maioria das doenças associadas ao processo de envelhecimento, tais como:
  • Doença de Alzheimer
  • Câncer
  • Doença cardiovascular(Hipertensão arterial, AVC, Arteriosclerose, aneurismas, etc)
  • Diabetes tipo II
  • Doença renal
  • Doenças oftalmológicas(retinopatias, catarata, etc)
  • Envelhecimento da pele, etc

Como as proteinas estão presentes em toda extensão do organismo, a capacidade destrutiva dos AGEs é enorme. Compreender como reduzir a formação destes AGEs é algo critico para ajudar a reduzir o processo de envelhecimento e diminuir os riscos para doenças crônico-degenerativas.

As Fontes  primárias de AGEs
 
Há basicamente 2 fontes de AGEs. A primeira fonte é o alimento que nós comemos. A formação de AGEs nos alimentos é potencializada por métodos de preparo que utilizam altas temperaturas e baixa umidade (fritar, assar ou grelhar), sendo os alimentos ricos em lipídeos os principais contribuintes do conteúdo dietético de AGEs. Há evidências de que os AGEs dietéticos se somam ao pool de AGEs endógenos, favorecendo o surgimento e a progressão das diversas complicações do diabetes.Quando as carnes de origem animal são assadas a altas temperaturas, ou seja, quando adquirem aquele aspecto “dourado”, é indicativo de que já ocorreu elevada formação de AGEs. Desde que grãos, vegetais ou frutas também possuem proteínas, também são passiveis de formar AGEs se aquecidos a altas temperaturas. Estima-se que 30% dos AGEs de origem alimentar são absorvidos quando ingeridos.

A segunda fonte de AGEs acontece dentro do seu organismo. Os nutrientes que você ingere alteram seus níveis de açúcar no sangue. A maioria do açúcar é utilizado nas reações oxidativas para formar energia para as células. Contudo, uma pequena proporção do açúcar sofre glicação e vai formar AGEs. Os devastadores efeitos dos AGEs então são dependentes da quantidade de açúcar e amido que consumimos. Tudo que aumenta em excesso a quantidade de açúcar no sangue, estimulará a glicação e a formação de AGEs.  Nas últimas décadas o consumo de açúcar tem aumentado dramaticamente. Açúcares simples como frutose e galactose são passíveis de sofrer glicação a uma taxa 10 vezes maior que a glicose. Muitos adoçantes utilizados hoje em sucos, refrigerantes, etc são 50% frutose ou derivados da frutose.
O fumo é também considerado importante fonte exógena de AGEs. Durante a combustão do tabaco, espécies reativas de AGEs são volatilizadas, absorvidas pelos pulmões e podem interagir com proteínas séricas. Isso se reflete no fato de que as concentrações séricas de AGEs e de AGE-apoproteína B em fumantes se apresentam significativamente mais altas que em não-fumantes.
Atualmente a indústria farmacêutica está empreendendo uma "caça ao tesouro" para descobrir  "removedores" de AGEs e produtos que inibem  sua formação. No mercado já figuram produtos à base de carnosina, ácido alfalipóico, extrato de mirtilo e laranja associado ao proxylane, peptídeos associados à vitamina E, silício e FN3RK (enzima capaz de reverter as fibras de colágeno alteradas).

Sugestões para proteger você dos AGEs:
 
Tendo em mente que é sempre o excesso de açúcar que potencializa a formação dos AGEs, faríamos bem em:
1. Reduzir substancialmente o consumo de açúcares  e carboidratos refinados(derivados das farinhas de trigo, milho e mandioca). Estes carboidratos possuem alto índice glicêmico, ou seja, são rapidamente absorvidos e promovem alterações significativas nos níveis de açúcar no sangue. Já descrevemos em post  anterior 50 maneiras como o açúcar refinado pode prejudicar sua saúde. 
 
2. Mantenha seus niveis de Glicemia estáveis. Para isto é necessário aprender como usar o índice glicêmico dos alimentos para manter seus níveis de glicemia numa faixa saudável.
 
3. Cozinhe as carnes mais lentamente e em fogo baixo. Altas temperaturas vão formar mais AGES que temperaturas mais baixas.
 
4. Aumente sua ingestão de fibras na dieta: feijões, ervilhas, lentilhas, etc. As fibras são estabilizadores do açúcar por horas e ajudam a manter o peso. Consuma-as de preferência no almoço e no jantar. 
 
5. Evite bebidas industrializadas adoçadas com “Frutose de soro do milho”( high fructose corn syrup-HFCS). O processo de extrair açúcar do milho foi desenvolvido na década de 70. É um processo químico complicado e enzimático que converte amido de milho em um xarope com uma concentração final de 55% de frutose e 45% de glicose, com  paladar idêntico ao do açúcar. A frutose está sendo estudada como importante fator na resistência insulínica do diabetes e obesidade. Todos os refrigerantes e bebidas industrializadas são adoçadas com este produto.
 
6. Mantenha-se bem hidratado com água pura e sem aditivos. Todos os processos de excreção dependem de uma boa hidratação. 

7. Aumente sua ingesta de antioxidantes. A formação de AGEs aumenta também a formação dos chamados radicais livres. O consumo regular de frutas e verduras aumenta a capacidade antioxidante do nosso organismo.  Vários condimentos como a vinagre, canela, açafrão e pimenta também ajudam a manter estáveis os níveis de açúcar no sangue e alguns são ricos em antioxidantes.

Fontes:

1. http://en.wikipedia.org/wiki/Glycation

2. Vlassara H. Advanced glycation in health and disease. Role of the modern environment. Ann N Y Acad Sci. 2005;1043: 452-60.

3. Goldberg T, Cai W, Peppa M, Dardaine V, Baliga BS, Uribarri J, et al. Advanced glycoxidation end products in commonly consumed foods. J Am Diet Assoc. 2004;104(8):1287-91.

4. Vlassara H, Palace MR. Diabetes and advanced glycation endproducts. J Intern Med. 2002;251(2):87-101.      

5. Cerami C, Founds H, Nicholl I, Mitsuhashi T, Giordano D, Vanapatten S, et al. Tobacco smoke is a source of toxic reactive glycation products. Proc Natl Acad Sci U S A. 1997;94(25): 13915-20.  

6. Thornalley PJ. The enzymatic defence against glycation in health, disease and therapeutics: a symposium to examine the concept. Biochem Soc Trans. 2003;6:1341-2.

7. Vlassara H, Palace MR. Glycoxidation: the menace of diabetes and aging. Mt Sinai J Med. 2003;70(4):232-41.

sábado, 5 de junho de 2010

Entrevista com Henry Okigami



Henry Okigami é farmacêutico, especialista em farmácia hospitalar, especialista em homeopatia, especialista em fitoterapia, consultor em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos na indústria farmacêutica, alimentícia e cosmética. Também é Diretor de pesquisa e desenvolvimento da Science Solution – Soluções em revestimento e nanotecnologia.

1.    Henry, um tema freqüentemente abordado por você em suas palestras é a questão da suplementação de aminoácidos essenciais, ácidos graxos ômega 3 e outros nutrientes, e seus efeitos moduladores na produção de neurotransmissores cerebrais específicos com repercussões no comportamento humano. Existe então uma “Dieta do bom humor”?

Eu diria que a dieta influencia nosso estado de humor. Imagine você que os principais neurotransmissores , dopamina, serotonina, epinefrina e norepinefrina são derivados de aminoácidos essenciais. Para sua produção precisamos de cofatores dependentes de vitaminas e enzimas dependentes de oligoelementos. Além disso há estudos mostrando que a deficiência de nutrientes pode alterar o estado de humor. Nossa relação com o que comemos é extraordinária. Dependemos muito de nosso relacionamento com o meio externo. Podemos dizer, então, que há dietas que podem melhorar o controle do humor, e até dizer que algumas dietas podem torná-lo mais otimista ou mais pessimista.Tudo depende do estado de neurotransmissores no nosso cérebro. 
2.    Estamos observando atualmente um crescimento acelerado ,de proporções mundiais da Obesidade e doenças associadas(Diabetes, Hipertensão, doença cardiovascular, etc.). De que forma o estilo de vida moderno tem interagido com nossa genética para explicar este crescimento da obesidade?
 
Bem, os estudos mostram que o ser humano foi selecionado para ser um animal que acumula energia. Imagine que quando nós aparecemos na face da terra o alimento era escasso. Daí nós fomos selecionados com base em nossa capacidade de comer mais, quando havia mais alimentos, e armazenar na forma de tecido adiposo ou gordura para épocas de escassez. Junte-se a isto o fato de que o alimento, além de ter uma disponibilidade mais fácil, também foi alterado em sua composição. Hoje em dia nossa dieta é mais rica em carboidratos simples, coisa que não ocorria nos tempos antigos. Também ingerimos carboidratos demais. Além disso, a agricultura moderna prioriza produzir mais, e não mais qualidade. Tudo isto  leva a um descontrole metabólico que nos leva a ingerir mais alimentos. Some o fato de que nós temos uma carga genética que predispõe à obesidade, mais alimentos altamente calóricos e de baixa qualidade, a tendência é ingerirmos mais alimentos e nos tornarmos obesos.

3.    Um dos temas bastante explorados na pesquisa científica ultimamente tem sido a questão da Inflamação como via metabólica comum de muitas das chamadas doenças modernas(diabetes, doença cardiovascular, Alzheimer, câncer, etc.). O que você tem a dizer sobre isto?

A inflamação está presente em quase todos as patologias conhecidas. Diferentemente do que se fala, a inflamação geralmente é causa de um distúrbio metabólico que pode ter causas múltiplas. Se corrigido o distúrbio metabólico, a inflamação pode regredir. Porém, devido ao desequilibrio multifatorial, tendemos sempre a ter uma inflamação em nosso corpo. Vamos pegar um exemplo... a depressão. A depressão tem um componente inflamatório que pode piorar o quadro clínico da depressão. O tratamento da depressão e da inflamação ao mesmo tempo pode acelerar a melhora do paciente. A inflamação é um alvo em inúmeras doenças como Alzheimer e doeça cardiovascular, mas não é a causa primária. É uma consequência da doença já estabelecida, e como tal deve ser considerada quando abordamos o tratamento.
4.    Uma grande preocupação mundial para os próximos anos tem sido o problema dos contaminantes químicos ambientais e suas repercussões na saúde humana. Neste contexto temos os resíduos de metais tóxicos. Quais os reais perigos destes contaminantes?

As conseqüências dos contaminantes ambientais ainda estão sendo mensuradas no ser humano. Sabemos que há conseqüências terríveis que tem sua gravidade associada ao nível de contaminação. Quanto maior a contaminação, pior a conseqüência. Mas, mesmo em quantidades consideradas normais, alguns contaminantes causam distúrbios bioquímicos no corpo, que refletirão num futuro, em prevalência maior de doenças, ou até estabelecimento de doenças dependentes destes contaminantes. Peguem o selênio como exemplo. Excesso de selênio é associado a ganho de peso. Falta de selênio é associado a ganho de peso. Excesso de chumbo altera as funções cognitivas, mesmo nos níveis aceitos pela organização mundial da saúde. Há que se considerar a sinergia entre os contaminantes. Imagine um individuo contaminado por múltiplos contaminantes que atuem num mesmo processo bioquímico, o que devemos considerar é a soma da toxicidade e não um produto isolado. O fato é que nós seres humanos somos predadores e destruimos nosso ambiente. Eu sempre falo que nós jogamos um monte de porcaria no ambiente e depois temos que limitar a ingestão, respiração e contato com aquelas porcarias.
5.    Tenho informação de que você está envolvido em pesquisa de ponta na área do câncer. Qual o futuro do uso de substâncias “naturais”(nutrientes, fitoterápicos, minerais, etc) no tratamento do câncer?

Acredito que não só o tratamento, como a prevenção de câncer, passe por muitos produtos naturais. O ponto principal no tratamento do câncer é focar a diferença entre a célula cancerigena e a célula normal. Há 20 anos estudo bioquimica da célula neoplásica. Hoje há uma tendência grande em se mirar alguns alvos especificos na célula neoplásica, alguns passos bioquimicos que estão associados à hiperproliferação. Ainda há muito o que se evoluir nesta área. Assim como a quimioterapia e a radioterapia tradicional, produtos naturais terão seu papel nessa luta contra o câncer, porém cabe a ciência esclarecer este papel.

Agradecemos a gentileza do henry em atender a esta entrevista para o nosso blog.  O henry mantém um blog de ciência cujo link está disponibilizado abaixo.