quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Reflexões sobre comida e Espiritualidade



Há algum tempo venho alimentando o desejo de escrever algo a respeito deste assunto.
De maneira nenhuma pretendo esgotá-lo neste post. Pretendo voltar a ele em outra ocasião.
Fala-se muito que a mola que move o mundo é o dinheiro. À primeira vista parece até ser verdade. Se, contudo, aprofundarmos um pouco a nossa compreensão, veremos que não é bem assim. Vou contar o que é que move o mundo: a FOME. O dinheiro é apenas um meio para satisfazer a “fome” (desejo de obter prazer). Embora a fome seja um fenômeno universal, quero abordá-la a partir da experiência de Jesus de Nazaré no deserto da galiléia. Esta história encontra-se descrita no evangelho segundo Mateus capitulo 4: versos 1 a 11. Permitam-me aqui reproduzir parcialmente o texto:


“1 Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo.
2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.
3 Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães.
4 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.


Este texto é riquíssimo em ensinamentos, porém vou me ater aqui ao que considero essencial:
Quando o comer deixa de ser um ato puramente instintivo e animal e passa a se tornar um ato espiritual? Quando isto é feito com CONSCIÊNCIA. Mas  a que consciência me refiro?

1. Consciência de quem você é e quem é o seu provedor:

Vemos no texto, que a abordagem do interlocutor de Jesus designado de Diabo (do grego Diabolos=enganador), começa invariavelmente tentando plantar a dúvida “Se és filho de Deus....”  Jesus tinha plena convicção de quem ele era e da sua conexão com o criador. Enquanto não se atinge esta iluminação, somos conduzidos a reboque dos nossos apetites inferiores. Vivemos neste mundo o dualismo entre o ser animal, que nos identifica com a natureza, e o ser transcendente(à imagem e semelhança da divindade) que tem necessidades(e possibilidades) que ultrapassam os domínios da matéria.  Neste sentido holístico, podemos afirmar que tudo no universo provém de Deus e é nutrido por ele.  A força cósmica divina, manisfesta através de energias de vários níveis de densidade nutre e mantém tudo no universo. Aquilo que comumente chamamos de “pão”, elementos do reino vegetal e animal dos quais nos alimentamos, são apenas manifestações mais densas desta energia.  A luz solar, o oxigênio, as energias eletromagnéticas da terra são também exemplos de princípios nutridores pelos quais somos mantidos.  A conseqüência prática desta consciência arraigada no ser humano é uma só:GRATIDÃO.


2. Consciência daquilo que é bom e está alinhado com o fluxo da vida.

No texto em questão, Jesus se vê diante da possibilidade de transformar pedras em pães para aplacar sua necessidade. No entanto a rejeita por perceber que ao fazer isto estaria contrariando a ordem e as leis da natureza e a conseqüência disto seria MORTE. Contextualizando esta questão, nunca antes o ser humano teve tanto poder para transformar “pedras” em “pães” quanto nos dias de hoje. A humanidade tem alterado radicalmente o seu sistema de produção de alimentos e com isto tem também produzido profundos impactos em seu ambiente(planeta) e no seu próprio organismo.  Transgenia, Agricultura de larga escala baseada no uso de agrotóxicos, desmatamento desenfreado, poluição dos mares e rios, etc, são exemplos de como temos nos tornado peritos na arte de transformar “pedras” em pães.  Tudo em nome da fome. O resultado dessa transmutação alquímica está aí pra todo mundo ver: morte e destruição. O ser humano espiritualmente desperto sabe que um alimento não é apenas a soma de seus nutrientes. Cada alimento é um aglomerado de energias que produzirão vida se estiverem alinhadas com o fluxo da vida. Isto tem a ver com o modo como este alimento foi produzido e as energias “estranhas” que a ele foram acrescentadas no processo. Como diria nosso querido Tim Maia: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Estamos comendo muita “pedra” e chamando isto de pão.

3. Consciência  de que nossas escolhas determinam a saúde e equilíbrio do ser

O desafio comum que está posto para  todo ser humano hoje é o mesmo: manter-se integro e em equilíbrio em um mundo cada vez mais corrompido e desequilibrado. Não vamos conseguir isto sem o exercício da espiritualidade. Somos seres dotados de livre arbítrio(aspecto este que nos identifica com o criador). Temos o poder de mudar a nós mesmos e o nosso meio através de nossas escolhas. A forma como tratamos o nosso corpo é reflexo do nosso estado espiritual. A espiritualidade não ocorre no vácuo. È no contexto do corpo , do tempo-espaço e do universo material. A forma como alimento e trato o meu corpo, assim como, com que alimento a minha mente, são atitudes espirituais. Através delas atraímos luz ou trevas.

Hipócrates, mais de 400 anos antes de Cristo ensinava “seja o alimento o teu remédio.” Aquilo que comemos tem o poder de alterar o funcionamento de nosso corpo físico, a natureza de nossos pensamentos e até a expansão de nossa consciência. Um estudo de 2 anos conduzido por Steven Schoenthaler, PhD, publicado no Journal of Biosocial research, demonstrou que enquanto o americano médio consumia cerca de 56 kg de açúcar por ano, delinqüentes juvenis sob custódia consumiam mais de 130 kg por ano. Quando esta ingestão de açúcar foi significativamente reduzida, os fast food também reduziram, frutas e vegetais foram acrescentados em maior quantidade, houve uma redução de 48% nos comportamentos antisociais, incluídos aí crimes violentos, crimes contra a propriedade e fugas. Isto foi obtido simplesmente com uma mudança alimentar.

Somos seres livres para fazer as escolhas que quisermos. Também para viver com as consequências delas.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Tenha um Feliz Natal e um próspero ano novo tratando o seu pâncreas com mais carinho!



Se em vez do título acima eu tivesse escrito “Tenha um Feliz Natal e um próspero ano novo  tratando o seu fígado com mais carinho”, com certeza a maioria faria a leitura mais óbvia e entenderia a referência implícita para evitar ou reduzir o consumo de álcool. No entanto, em se tratantando do pâncreas, ainda grande desconhecido da maior parte da população, a referência deixa de ser óbvia. 

O pâncreas é um órgão interessante. Com 15-25 cm, se localiza no abdômen,mais precisamente no retroperitônio. Ou seja, ele está localizado posteriormente ao estômago e está em associação próxima ao duodeno. O pâncreas é ao mesmo tempo um órgão exócrino e endócrino. Isto significa que libera secreções no tubo digestivo(sucos pancreáticos com funções digestivas) e produz hormônios lançados diretamente na corrente sanguinea(Insulina, glucagon e somatostatina). Através dos hormônios insulina e glucagon, o pâncreas regula e controla os níveis de açúcar(glicose) no sangue.

Do ponto de vista fisiológico, o pâncreas é acionado todas as vezes que nos alimentamos. Quando os níveis de glicose pós prandiais (pós alimentação) se elevam, o pâncreas reage liberando a insulina produzida pelas chamadas células beta. A insulina é o hormônio que possibilita a glicose circulante entrar na célula e ser utilizada como substrato para a produção de energia. Quando não há produção adequada da insulina, ou quando, mesmo havendo insulina, esta não consegue exercer adequadamente suas funções (resistência à insulina) surge o Diabetes Mellitus, doença em franco crescimento no mundo moderno.

Na década de 90, a literatura científica começou a utilizar um termo interessante: “ambiente obesogênico”. Este termo tem sido utilizado para descrever um ambiente que encoraja o consumo de alimentos com alta densidade energética , rico em açúcares, carboidratos refinados, sal e gorduras, e desencoraja a atividade física. E este ambiente,  no qual estamos inseridos,  tem se tornado um lugar cada vez mais desfavorável à sobrevivência do nosso pâncreas. A evidência disto se manifesta pelo aumento absurdo na incidência da obesidade, Diabetes tipo 2 e intolerância à glicose (ou pré diabetes) na população mundial. Ora, estes 3 fenômenos citados (Obesidade, Diabetes tipo 2 e intolerância á glicose) nada mais são que manifestações diversas de um mesmo problema fisiopatológico: a resistência á ação da insulina. Quando um organismo desenvolve resistência á ação da insulina, seus tecidos(especialmente músculos e tecido adiposo) perdem em grande parte a capacidade de responder às ações da insulina. O pâncreas tenta compensar esta resistência á ação da insulina produzindo quantidades adicionais do hormônio. Isto resulta em um estado de HIPERINSULINEMIA na corrente sanguínea e todos os efeitos adversos decorrentes deste desajuste. A resistência à insulina acarreta um aumento da deposição de gordura no abdômen. Pesquisas já demonstraram que esta gordura abdominal visceral produz uma série de hormônios que atuam para acelerar o processo de resistência à insulina. Assim, forma-se um ciclo vicioso. Quanto maior a gordura abdominal, maior será a resistência à insulina e vice versa. 

Insulino resistência e hiperinsulinemia não constituem uma “doença” ou diagnóstico específico, contudo tem sido inequivocadamente associadas a condições tais como, Doença cardiovascular, Diabetes tipo2, Obesidade visceral (linha da cintura cintura > 102 cm), hipertensão arterial, Síndrome do Ovário policístico, Dislipidemia(aumento de triglicérides, Diminuição HDL e aumento de LDL) e esteatose hepática. Muitos pesquisadores também alegam haver uma correlação bastante significativa entre a insulino resistência e vários tipos de câncer.

Como saber se uma pessoa apresenta resistência à insulina? 

Tendo em vista que a resistência se desenvolve muito antes do aparecimento das doenças, acredita-se que a identificação e o tratamento precoce desses pacientes tenha um importante papel preventivo. Deve-se suspeitar da síndrome da resistência à insulina em pacientes com história de diabetes em parentes de primeiro grau, com história pessoal de diabetes gestacional, síndrome do ovário policístico ou de intolerância à glicose, além de pacientes obesos (particularmente aqueles com acúmulo de gordura abdominal). 

Do ponto de vista laboratorial, uma glicemia de jejum  >100 mg/dl e < 127 mg/dl, segundo os critérios mais novos da ADA(Sociedade Americana de Diabetes) caracteriza o que chamamos de intolerância à glicose ou pré diabetes. Níveis de glicemia de jejum iguais ou superiores a 127 mg/dl já dão diagnóstico de Diabetes Mellitus. Às vezes o paciente tem níveis normais de glicemia em jejum mas apresenta alterações no teste oral de tolerância à glicose. Durante um teste de tolerância à glicose, um paciente em jejum toma uma dose oral de 75 gramas de glicose. Os níveis de glicose no sangue são, então, medido após a primeira e segunda hora..
A interpretação é baseada em diretrizes da OMS. Depois de duas horas, a glicemia inferior a 140 mg / dl é considerado normal, uma glicemia entre 140-199 mg / dl é considerada como intolerância à glicose (IGT) e um glicemia maior ou igual a 200 mg / dl é considerado Diabetes Mellitus.

A resistência á insulina é um fator comum a múltiplas doenças do mundo moderno e, ao meu ver, é uma manifestação da sobrecarga que o nosso pâncreas vem sofrendo por este “ambiente obesogênico” que favorece a manutenção quase constante de altas taxas de açúcar circulantes e demanda uma produção exagerada de insulina. O tratamento atual consiste de mudanças comportamentais, como a perda de peso,redução dos carboidratos refinados,  a prática regular de atividade física e uma dieta rica em fibras.