quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Arginina: um nutriente com cara de remédio


A Arginina é um aminoácido não essencial (que pode tornar-se essencial sob certas circunstâncias) que desempenha múltiplas funções na fisiologia e metabolismo humano.

Tendo fundamental participação em processos tão variados como divisão celular, cicatrização de ferimentos, remoção da amônia do organismo, função imunológica, regulação da liberação de vários hormônios, regulação do fluxo sanguíneo nos vasos através da liberação de óxido nítrico; agora a literatura cientifica tem apresentado evidências de seu efeito benéfico potencial em obesidade.

Em trabalho publicado no Journal of Nutrition, cientistas texanos ligados à “AgriLife Research Centre, Texas A&M University estudaram os efeitos da suplementação de arginina em ratos obesos. Há crescentes evidências apontando que a suplementação de L-Arginina na dieta, reduz a adiposidade(massa de gordura) em ratos obesos geneticamente modificados, porcos e humanos com Diabetes Mellitus tipo 2. Os mecanismos envolvidos neste beneficio promovido pela Arginina são um tanto quanto complexos. Em ultima instância, envolvem modificações no balanço energético do organismo em favor da redução dos depósitos de gordura corporal ou redução do crescimento do tecido adiposo branco. Recentes estudos indicam que a suplementação de L-Arginina estimula a biogênesis mitocondrial e o desenvolvimento de tecido adiposo marrom, bem como o aumento na expressão de genes relacionados à oxidação de substratos energéticos como a glicose e ácidos graxos.

No referido trabalho, ratos geneticamente modificados receberam suplementação de L-Arginina através da água durante 10 semanas. A suplementação com L-Arginina reduziu significativamente(16%) o peso corporal, bem como o peso dos tecidos adiposos do abdômen e epidídimo, sem contudo alterar a ingesta de alimentos ou água. Outro interessante efeito observado foi o aumento proporcional de peso da musculatura esquelética, coração e cérebro dos ratos estudados.

Os autores do estudo observaram em ratos o efeito antiobesidade da suplementação de L-Arginina, que pode ser benéfica e potencialmente útil para o tratamento de indivíduos obesos e diabéticos. Novos estudos em humanos deverão confirmar estes presupostos.

As principais fontes de Arginina na alimentação incluem os laticínios(queijos, iogurte, requeijão), carnes(bovina, aves, frutos do mar e caça), além de chocolate, amendoim, nozes, melancia, etc.

Fonte: J. Nutr. 135:714-721, April 2005

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O que a jaboticaba tem?


A riqueza da flora brasileira é tão exuberante e variada, contudo ainda muito pouco explorada em relação ao seu potencial para saúde humana. O Brasil ainda não construiu uma política adequada em relação à proteção das espécies nativas e ao estudo científico  do conhecimento empírico acumulado pelas populações em relação à seus recursos naturais. Isto abre as portas para a chamada Biopirataria. O termo biopirataria não refere-se apenas ao contrabando de diversas espécies naturais da flora e da fauna, mas principalmente, à apropriação e monopolização dos conhecimentos das populações tradicionais no âmbito do uso dos recursos naturais. Estas populações estão perdendo o controle sobre esses recursos.A biopirataria tem prejudicado a Amazônia. Causa risco de extinção a inúmeras espécies da fauna e da flora, com o contrabando das mesmas - retirando-as de seu habitat natural. Por incrível que pareça, produtos nativos nossos como o açaí, cupuaçu, andiroba, jaborandi, etc, têm sido patenteados em países da Europa e Japão. 

Outro dia conversava com um amigo que trabalha na policia federal e ele me revelou como variadas ONGs estrangeiras estão explorando (e se apropriando) de recursos da nossa floresta amazônica. Imiscuídos em diversas aldeias indígenas, estão coletando informações seculares acumuladas por estes povos acerca do valor medicinal de diversas espécies nativas e estudando isto cientificamente. Estou falando tudo isso apenas a título de introdução para o assunto do qual quero tratar neste post: nossa JABOTICABA.
 
Recentemente, em estudo realizado na UNICAMP a Dra. Daniela Brotto Terci (química), enquanto pesquisava pigmentos naturais capazes de substituir corantes artificiais usados na indústria alimentícia, descobriu como esta frutinha é uma fonte extraordinária de antocianidinas. As antocianinas são pigmentos responsáveis por uma variedade de cores atrativas e brilhantes de frutas, flores e folhas que variam do vermelho vivo ao violeta e azul. Daniela jamais tinha suspeitado de que havia tanta antocianina ali, na jabuticaba; aliás, nem ela e nem ninguém mais.
"Os trabalhos a respeito dessa fruta são muito escassos", justifica a pesquisadora, que também mediu a dosagem de antocianinas da amora e da uva. Ironia, o fruto da videira saiu perdendo no ranking, enquanto o da jabuticabeira... Dê só uma olhada, o número representa a quantidade de miligramas de antocianidinas por grama da fruta:

- Jabuticaba: 314 mg
- Amora: 290 mg
- Uva: 227 mg

As antocianidinas pertencem à classe dos bioflavonóides (compostos amplamente distribuídos no reino vegetal, descobertos em 1936, que apresentam ação semelhante à vitamina C; também denominados vitamina P), que conferem às plantas, frutas e flores uma cor que varia do vermelho ao azul.  Nas últimas duas décadas, inúmeros estudos e pesquisas contribuíram para uma melhor compreensão a respeito das antocianidinas. Experiências em laboratórios demonstraram que as antocianidinas são antioxidantes aproximadamente, 50 vezes mais potentes do que a vitamina E e 20 vezes mais do que a vitamina C. Entre os inúmeros benefícios das antocianidinas na saúde citamos: ação antiinflamatória sobre os tecidos e articulações, protegem e estimulam a reparação dos tecidos ricos em colágeno- principal proteína da pele, responsável pela firmeza e elasticidade(também as artérias, mantendo a elasticidade e evitando o endurecimento), melhoram a circulação sanguinea periférica e fortalece os vasos sanguineos, melhoram as defesas imunológicas, protegem a visão (degeneração macular), auxiliam na estabilização dos níveis de açúcar no sangue e apresentam propriedades anticancerígenas.

A temporada de jaboticaba é curta. Além de ser deliciosa “in natura”, lembrando que não se deve jogar a casca fora porque é na casca que se encontram as benditas antocianidinas, muitas receitas como sucos geléias, e até bolos podem ser preparadas. Recentemente tenho utilizado um método que me permite dispor deste valioso nutriente durante boa parte do ano. Comprei pela internet um desidratador de frutas. Eu lavo bem a fruta, retiro a polpa e ponho as cascas para desidratar durante aproximadamente 24 horas. Depois disto eu passo as cascas no processador até que obtenha um pó fino bastante para passar na peneira comum. Cosumo em média uma colher de café deste preparado diariamente.

O resveratrol (extraído da casca da uva escura) tem sido muito “badalado”  e bastante vendido (a preço bem elevado) pelas seus supostos benefícios à saúde. Os antioxidantes polifenólicos da uva(como o resveratrol) são da mesma classe encontrada na jaboticaba. A jaboticaba é nossa, tem mais antioxidantes que a uva e é barata. Vamos valorizar mais o que é nosso.