domingo, 6 de fevereiro de 2011

6 atitudes não farmacológicas para melhorar sua imunidade


A população tem sido constantemente assustada pela mídia em relação ao crescimento das doenças infecto-contagiosas em nosso país e no mundo. Gripe H1N1, Influenza, AIDS, superbactéria KPC, tuberculose pulmonar, meningite, etc, são muitas as ameaças invisíveis que atormentam o imaginário popular. O que fazer com esta situação? Será que não existe outra atitude a ser tomada exceto esperar pela próxima vacina “salvadora”, ou pela novo antiviral “revolucionário”, ou pelo mais “potente” antibiótico de última geração da indústria farmacêutica que vai eliminar de vez com os perigosos patógenos ?

Em postagem anteriormente publicada neste blog, expliquei aqui como Pasteur, microbiologista francês que viveu no século passado, pai da chamada teoria do germe, influenciou decisivamente o modelo de medicina que é praticada hoje ao atribuir aos germes a responsabilidade exclusiva pela maior parte das moléstias que nos afligem. Com isto, a importância do chamado “terreno biológico”, ou seja, o ambiente que interage com o germe facilitando ou inibindo sua proliferação no organismo foi praticamente esquecida ou deixada para segundo plano. Ora, os humanos possuem em seus organismos 10 vezes mais bactérias que células humanas. Se houvesse um meio de eliminar todos os germes que vivem em nós e interagem conosco, qual seria o resultado mais provável?  Morte. Por isso, o que precisamos é interagir adequadamente com estes germes através de um sistema imunológico competente e saudável.

Pensando nisto, baseado na literatura científica e em minha experiência clínica, enumero algumas medidas não farmacológicas que podem melhorar significativamente seu sistema imunológico aumentando seu nível de proteção contra doenças infecto-contagiosas. 

1. Mantenha uma atividade física regular

Se você quer melhorar seu nível de imunidade, evite o sedentarismo. Elevar sua freqüência cardíaca durante pelo menos 3 vezes por semana, durante pelo menos 20 minutos está associado com aumento da atividade imunológica. A atividade física regular e adequada aumenta os níveis de leucócitos circulantes (células de vigilância imunológica) e diminui a liberação dos hormônios do stress(cortisol, adrenalina, etc) que são sabidamente imunodepressores. Também tem sido demonstrado que exercícios cardiovasculares moderados , como caminhar ou andar de bicicleta, podem atenuar o declínio imunológico que acompanha o envelhecimento biológico. 

2. Evite o Sobrepeso/Obesidade: 

Em termos gerais, os dados clínicos e epidemiológicos apoiam a evidência que a incidência e severidade de doenças infecciosas específicas são maiores em indivíduos obesos em comparação  com indivíduos normais. Engordar também aumenta o risco de desenvolver doenças relacionadas, como diabetes, câncer e doença cardiovascular. Em parte, isto pode ser explicado pelo fato como o excesso de células adiposas afetam o sistema imunológico. O acúmulo exagerado de gordura (principalmente a gordura visceral, aquela que se acumula na linha da cintura) dispara um aumento na produção de mediadores químicos inflamatórios, levando o organismo a um estado “próinflamatório(veja aqui os perigos da inflamação oculta), o que aumenta a chance de injúria tecidual e limita a ação do sistema imunológico. Estudos em animais têm mostrado que cobaias obesas ou com sobrepeso formam menos anticorpos quando vacinadas. Os anticorpos são utilizados como medida para a resposta imunológica à vacinação.

3. Reduza (o máximo possível) o consumo de açúcar, carboidratos simples, gordura saturada e gordura trans

O açúcar e alimentos açucarados põem imobilizar por várias horas a atividade de nosso sistema imunológico. Em post anterior, apontei trabalho que demonstrou como o consumo de apenas 100g de carboidratos na forma de glicose, frutose, amido, mel e até suco de laranja podem reduzir significativamente a atividade fagocítica dos leucócitos por um período de até 5 horas. O açúcar e os carboidratos refinados também interferem no sistema imunológico através de seus efeitos no intestino. Estes alimentos provocam desequilíbrios crônicos na flora intestinal (Disbiose). 80% de nosso sistema imunológico se localiza no intestino. Desequilibrios no delicado balanço microbiológico da nossa flora intestinal podem prejudicar significativamente o desempenho do sistema imunológico contra os patógenos invasores. Dietas ricas  em gordura saturada e gordura trans também são deletérias para nosso sistema imunológico.

4. Aumente a ingestão de alimentos prebióticos e probióticos. 

O termo prebiótico é utilizado, para designar ingredientes alimentares não digeríveis que beneficiam o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de uma ou um número limitado de espécies bacterianas no cólon. Os dois prebióticos mais estudados são os frutooligosacarideos(FOS) e a inulina. São tipos de carboidratos presentes em vegetais como cebolas, alho, aspargos, alcachofra, chicória, tomates, banana, etc. Analisando os hábitos da população geral, estima-se o consumo de FOS em torno de 800 mg/dia, enquanto que a recomendação é para ingerir 2 a 6 g/dia.
Já os probióticos são bactérias que produzem efeitos benéficos no hospedeiro, usados para prevenir e tratar doenças, como promotores de crescimento e como imunoestimulantes. Na atualidade, os alimentos probióticos disponíveis no mercado são iogurtes, leites fermentados e Kefir. Os probióticos também podem ser administrados terapêuticamente em forma de cápsulas ou sachês.

5. Mantenha um nível ótimo de vitamina D:


Quando foi descoberta, a vitamina D foi chamada de "vitamina" porque estávamos olhando apenas para os seus efeitos na absorção do cálcio e mineralização dos ossos. Contudo, com o que se sabe hoje, esta vitamina mais adequadamente deveria receber o nome de hormônio. A vitamina D depende da luz solar para sua síntese e ativação. Exerce ações em múltiplos tecidos e células e participa da regulação de mais de 200 genes. As células do sistema imunológico possuem receptores para vitamina D. Uma das principais armas do sistema imunológico contra vírus e bacterias é o chamado linfócito T. Acontece que os nossos linfócitos T dependem da vitamina D presente no organismo para se tornarem ativos e promoverem suas atividades contra estes patógenos.
Em post anterior escrevi como níveis baixos de vitamina D podem estar associados a incidència aumentada de infecções, particularmente infecções respiratórias. Hoje, parece estar havendo uma deficiência generalizada de vitamina D na população. Grande parte das pessoas vive a maior parte do dia encerradas entre quatro paredes. A midia, por vezes, superenfatiza os maleficios para a pele da radiação ultravioleta do sol. Não podemos nos esquecer que é o sol que torna possivel a vida neste planeta.


6. Manter um estado nutricional adequado é fundamental:

É sobejamente conhecido o fato de que indivíduos desnutridos têm maior risco para doença infecciosa devido a uma resposta imune inadequada. Infecção eleva o nível de inflamação no organismo, que contribui para piorar o estado nutricional. É o chamado "ciclo vicioso". O resultado de certas doenças infecciosas, incluindo HIV e tuberculose pulmonar, são piores quando o paciente está desnutrido. A desnutrição proteico-calórica tem significativos efeitos negativos em vários componentes do sistema imunológico. Estudos tem mostrado diminuição de função em vários orgãos do sistema imunológico (timo, baço, gânglios linfáticos) em indivíduos desnutridos.

Além dos papel dos macronutrientes(proteinas, carboidratos e gorduras), outros nutientes como vitaminas, minerais e micronutrientes também desempenham papel crucial para manutenção da imunocompetência. Entre estes citamos, a vitamina A, beta caroteno, ácido fólico, vitamina c, B12, B6, vitamina E, Ferro, zinco, magnésio e selênio. Os nutrientes antioxidantes, por exemplo, desempenham um papel fundamental no balanço entre antioxidantes/oxidantes nas células imunológicas, ajudando assim a protegê-las contra os radicais livres (stress oxidativo),que podem desajustar suas funções.



Não posso deixar de citar aqui o papel fundamental de alguns fitoquimicos encontrados em vários alimentos. A alicina e outros compostos sulfurosos do alho, com propriedades antibacterianas, antifúngicas e antivirais conhecidas; Os gingerois do gengibre, que além do importante efeito antiinflamatório(inibidor COX-1 e COX-2), podem também ser útieis contra doenças infecciosas como as causadas pelos estafilococus aureus, agente comum em várias infecções, desde uma simples infecção de pele até uma doença grave como pneumonia, meningite, osteomielite, endocardite e septicemia. O gengibre tem a habilidade de aumentar a eficiência de várias drogas antimicrobianas(como as tetraciclinas e penicilinas) contra infecções contra estafilos. Cito também os compostos imunoestimulantes como o lentinan e beta glucans encontrados em  cogumelos Shiitake , Agaricus e outras espécies.