terça-feira, 21 de setembro de 2010

A terapia genética não fracasou e está disponível para ser usada em sua próxima refeição.

A revista superinteressante em edição de setembro/2010 aborda o aparente insucesso da ciência(até o momento), em , a partir do conhecimento gerado pelo mapeamento genético humano concluído em 2004 através do projeto Genoma,  disponibilizar uma terapia eficaz e segura que possa evitar ou tratar doenças que tenham um componente genético importante em sua fisiopatologia.

Durante as décadas de 1980 e 1990, ensaios sobre terapia gênica anunciavam uma nova revolução da medicina. As técnicas de biotecnologia molecular moderna tornariam possível a reparação de defeitos genéticos, "inserindo DNA saudável diretamente nas células de um paciente", sabiam os pesquisadores. O entusiasmo, porém, logo se desvaneceu. Apesar de alguns resultados positivos terem sido alcançados, as dificuldades encontradas e os problemas criados, sobretudo pela introdução de vírus recombinantes  em organismos, infelizmente, não permitiram que essa revolução ocorresse como previsto.

Em 2004 o projeto Genoma foi concluído. Se tudo tivesse saído como imaginado, o projeto Genoma teria desvendado a causa de doenças graves como Diabetes, Câncer, Alzheimer, etc. Na prática, o que se esperava era mais ou menos isto: todo o mundo teria o genoma mapeado. O médico leria o DNA do paciente e procuraria por algum gene ou mutação capaz de provocar uma doença. Se encontrasse algo preocupante, prescreveria um tratamento que agisse naquele gene. Diabéticos por exemplo, sairiam com uma receita que regulasse o gene responsável pela produção de insulina. Contudo,a euforia inicial começou a desmoronar assim que os cientistas mergulharam nos dados do genoma. Para começar, eles nem sabiam bem quantos genes teriam que decifrar. A principio acreditavam que o genoma humano continha aproximadamente 300.000 genes. Depois reduziram para 100.000. Ao final do projeto chegaram a quantia de 25.000 genes. Com o mapeamento do genoma humano, muito mais perguntas foram levantadas que respondidas. A complexa análise funcional do genoma humano permanece como fronteira a ser explorada. Cite-se, por exemplo, o caso da obesidade. Os cientistas já descobriram cerca de 40 genes relacionados com esta patologia. Contudo, este número representa apenas 10% do total de genes relacionados à obesidade. Ainda falta correr atrás dos outros 90%.

Enquanto não chega a “pílula mágica” que vai permitir desativar genes responsáveis pela maioria das doenças que dizimam a nossa espécie, ou ativar genes que nos tornarão mais resistentes a estas doenças(aliás, a corrida pelo desenvolvimento desta classe de fármaco é uma espécie de “santo graal” da indústria farmacêutica), o meu propósito com este artigo é chamar a atenção aqui para a maneira mais simples, segura e econômica como podemos influenciar a nossa genética, prevenir as chamadas doenças crônico degenerativas e ter uma melhor qualidade de vida: comendo.
 
A interação nutriente x genes: nossos genes dependem de uma boa nutrição

Nos últimos 40.000 anos temos replicado nossos gens geração após geração sem alterações significativas. Isto quer dizer que mudanças em nosso perfil genético não respondem pelo aumento ou redução na incidência das doenças mais relevantes atualmente, como diabetes, câncer, alzheimer, doença cardiovascular, etc. Os seres humanos são 99,9% iguais do ponto de vista genético. Isto quer dizer que  é este 0,1% de diferença na constituição genética que torna cada ser humano único. É esta diferença que também explica porque alguns indivíduos são mais suscetíveis a determinadas doenças e mais resistentes a outras, e porque determinadas pessoas respondem, de maneira particular a determinado medicamento.
Embora a constituição genética possa nos tornar mais suscetíveis a determinada doença, é na verdade o nosso estilo de vida que vai determinar se vamos chegar a desenvolver esta doença ou não. Em outras palavras, a nossa genética é modulada pelo nosso estilo de vida(o que  e quanto comemos, quanta atividade física realizamos, quanto stress experimentamos, etc). Com exceção de algumas poucas doenças, causadas por mutações genéticas, a maioria das doenças humanas resulta de interações entre a suscetibilidade genética e fatores ambientais modificáveis. Em termos coloquiais, poderíamos colocar assim: a genética carrega a arma, mas é o ambiente que puxa o gatilho. Um individuo pode herdar uma predisposição para um fenótipo (uma doença, por exemplo) contudo, a manifestação deste fenótipo(inicio da doença) e a magnitude deste fenótipo(severidade da doença)pode ser modificada pela exposição a fatores ambientais(nutrientes, poluentes, etc). O conceito pode ser simplificado desta forma: um organismo metaboliza os nutrientes dos alimentos, e também outros xenobióticos(toxinas, poluentes, drogas, etc) que vão influenciar a expressão da informação genética. Estes compostos químicos podem alterar a expressão genética, estrutura da cromatina, processos de reparo do DNA e outros processos regulatórios, em última instância, determinando ou não o surgimento de doenças como câncer, diabetes, alergias, infertilidade, etc. 

Embora as técnicas de manipulação genética tenham falhado em criar terapias novas e seguras, surpreendentemente, a esperança de melhores tratamentos e prevenção de muitas doenças que nos afligem surge de uma fonte inesperada: o estudo da NUTRIÇÃO. Hipócrates, pai da medicina já compreendia esta verdade aproximadamente 2500 ac ao afirmar “seja o alimento o teu remédio, e teu remédio alimento”. No entanto, a medicina moderna com seu progresso tecnológico, começa a reconhecer a excelência dos preceitos hipocráticos. Um enorme volume de dados da literatura científica aponta para o fato de que o normal funcionamento de nossos gens depende basicamente de uma boa dieta e um estilo de vida saudável. Os nutrientes dos alimentos(carboidratos, proteinas, lipídios, vitaminas, minerais, fitoquimicos, etc.)podem ativar ou desativar gens interferindo diretamente em nossa saúde, qualidade de vida e longevidade. Vejamos um exemplo como isto funciona: Em 1960 foi relatado na literatura científica que mulheres grávidas que ingeriam dietas com baixo teor de vitaminas do complexo B e ácido fólico apresentavam alto risco de dar a luz a crianças com uma séria má formação congênita chamada espinha bífida. Alguns anos depois, os cientistas compreenderam que algumas mulheres apresentavam uma deficiência genética que interferia na síntese de ácido fólico no organismo, aumentando o risco de defeitos congênitos nos filhos destas mulheres. Os estudos concentraram então sobre o gene associado com a produção de uma enzima essencial para a síntese do ácido fólico. Defeitos neste gene determinavam a criação de uma enzima ineficiente, que por sua vez limitava a produção de ácido fólico no organismo, essencial para a produção do DNA e crescimento fetal. Então os cientistas descobriram que mulheres que aumentavam seu consumo de ácido fólico (através de alimentos ou suplementos) superavam este empecilho genético e davam a luz a bebês sadios e sem defeitos. Este é apenas um exemplo como fatores genéticos podem ser modificados ou modulados pela interação com a dieta. Outro exemplo mais recente é a vitamina D. Inicialmente associada ao metabolismo do cálcio e saúde dos ossos, hoje sabe-se que sua ação no organismo assemelha-se mais à ação de um hormônio, interferindo diretamente na atuação de mais de 200 genes responsáveis por múltiplas ações, com influência importante em problemas como obesidade, diabetes, depressão, etc.

Os conhecimentos nesta área, deram origem a um novo campo de estudo que recebeu o nome de NUTRIGENÔMICA. A nutrigenômica estuda a interação entre a dieta e nutrientes com nossos genes e seus efeitos na saúde e doença. A nutrigenômica futuramente vai nos permitir delinear uma dieta realmente personalizada, ou seja, apropriada para nossa constituição genética. As pirâmides alimentares são generalizações muitas vezes inadequadas a um indivíduo em particular. É a genética que vai determinar quantas porções de carboidratos por dia o indivíduo deve consumir, que vitaminas suplementar, que gorduras restrigir,etc. Este é o futuro. O fim disto? Uma vida mais longa e mais saudável. Quem viver verá.

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