domingo, 12 de dezembro de 2010

Tenha um Feliz Natal e um próspero ano novo tratando o seu pâncreas com mais carinho!



Se em vez do título acima eu tivesse escrito “Tenha um Feliz Natal e um próspero ano novo  tratando o seu fígado com mais carinho”, com certeza a maioria faria a leitura mais óbvia e entenderia a referência implícita para evitar ou reduzir o consumo de álcool. No entanto, em se tratantando do pâncreas, ainda grande desconhecido da maior parte da população, a referência deixa de ser óbvia. 

O pâncreas é um órgão interessante. Com 15-25 cm, se localiza no abdômen,mais precisamente no retroperitônio. Ou seja, ele está localizado posteriormente ao estômago e está em associação próxima ao duodeno. O pâncreas é ao mesmo tempo um órgão exócrino e endócrino. Isto significa que libera secreções no tubo digestivo(sucos pancreáticos com funções digestivas) e produz hormônios lançados diretamente na corrente sanguinea(Insulina, glucagon e somatostatina). Através dos hormônios insulina e glucagon, o pâncreas regula e controla os níveis de açúcar(glicose) no sangue.

Do ponto de vista fisiológico, o pâncreas é acionado todas as vezes que nos alimentamos. Quando os níveis de glicose pós prandiais (pós alimentação) se elevam, o pâncreas reage liberando a insulina produzida pelas chamadas células beta. A insulina é o hormônio que possibilita a glicose circulante entrar na célula e ser utilizada como substrato para a produção de energia. Quando não há produção adequada da insulina, ou quando, mesmo havendo insulina, esta não consegue exercer adequadamente suas funções (resistência à insulina) surge o Diabetes Mellitus, doença em franco crescimento no mundo moderno.

Na década de 90, a literatura científica começou a utilizar um termo interessante: “ambiente obesogênico”. Este termo tem sido utilizado para descrever um ambiente que encoraja o consumo de alimentos com alta densidade energética , rico em açúcares, carboidratos refinados, sal e gorduras, e desencoraja a atividade física. E este ambiente,  no qual estamos inseridos,  tem se tornado um lugar cada vez mais desfavorável à sobrevivência do nosso pâncreas. A evidência disto se manifesta pelo aumento absurdo na incidência da obesidade, Diabetes tipo 2 e intolerância à glicose (ou pré diabetes) na população mundial. Ora, estes 3 fenômenos citados (Obesidade, Diabetes tipo 2 e intolerância á glicose) nada mais são que manifestações diversas de um mesmo problema fisiopatológico: a resistência á ação da insulina. Quando um organismo desenvolve resistência á ação da insulina, seus tecidos(especialmente músculos e tecido adiposo) perdem em grande parte a capacidade de responder às ações da insulina. O pâncreas tenta compensar esta resistência á ação da insulina produzindo quantidades adicionais do hormônio. Isto resulta em um estado de HIPERINSULINEMIA na corrente sanguínea e todos os efeitos adversos decorrentes deste desajuste. A resistência à insulina acarreta um aumento da deposição de gordura no abdômen. Pesquisas já demonstraram que esta gordura abdominal visceral produz uma série de hormônios que atuam para acelerar o processo de resistência à insulina. Assim, forma-se um ciclo vicioso. Quanto maior a gordura abdominal, maior será a resistência à insulina e vice versa. 

Insulino resistência e hiperinsulinemia não constituem uma “doença” ou diagnóstico específico, contudo tem sido inequivocadamente associadas a condições tais como, Doença cardiovascular, Diabetes tipo2, Obesidade visceral (linha da cintura cintura > 102 cm), hipertensão arterial, Síndrome do Ovário policístico, Dislipidemia(aumento de triglicérides, Diminuição HDL e aumento de LDL) e esteatose hepática. Muitos pesquisadores também alegam haver uma correlação bastante significativa entre a insulino resistência e vários tipos de câncer.

Como saber se uma pessoa apresenta resistência à insulina? 

Tendo em vista que a resistência se desenvolve muito antes do aparecimento das doenças, acredita-se que a identificação e o tratamento precoce desses pacientes tenha um importante papel preventivo. Deve-se suspeitar da síndrome da resistência à insulina em pacientes com história de diabetes em parentes de primeiro grau, com história pessoal de diabetes gestacional, síndrome do ovário policístico ou de intolerância à glicose, além de pacientes obesos (particularmente aqueles com acúmulo de gordura abdominal). 

Do ponto de vista laboratorial, uma glicemia de jejum  >100 mg/dl e < 127 mg/dl, segundo os critérios mais novos da ADA(Sociedade Americana de Diabetes) caracteriza o que chamamos de intolerância à glicose ou pré diabetes. Níveis de glicemia de jejum iguais ou superiores a 127 mg/dl já dão diagnóstico de Diabetes Mellitus. Às vezes o paciente tem níveis normais de glicemia em jejum mas apresenta alterações no teste oral de tolerância à glicose. Durante um teste de tolerância à glicose, um paciente em jejum toma uma dose oral de 75 gramas de glicose. Os níveis de glicose no sangue são, então, medido após a primeira e segunda hora..
A interpretação é baseada em diretrizes da OMS. Depois de duas horas, a glicemia inferior a 140 mg / dl é considerado normal, uma glicemia entre 140-199 mg / dl é considerada como intolerância à glicose (IGT) e um glicemia maior ou igual a 200 mg / dl é considerado Diabetes Mellitus.

A resistência á insulina é um fator comum a múltiplas doenças do mundo moderno e, ao meu ver, é uma manifestação da sobrecarga que o nosso pâncreas vem sofrendo por este “ambiente obesogênico” que favorece a manutenção quase constante de altas taxas de açúcar circulantes e demanda uma produção exagerada de insulina. O tratamento atual consiste de mudanças comportamentais, como a perda de peso,redução dos carboidratos refinados,  a prática regular de atividade física e uma dieta rica em fibras. 


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