quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Inflamação "oculta" pode estar minando sua saúde


Em postagem anterior, abordei superficialmente a questão da inflamação. Hoje aprofundo este assunto e voltarei a abordá-lo sob diversas óticas em ocasião oportuna.

Imagine uma situação bem corriqueira do dia a dia. Você cai durante uma corrida no parque e fere os joelhos. O que vai acontecer com o ferimento nas horas seguintes ao incidente? A região afetada ficará vermelha, quente, dolorida e “inchada”. Estes sinais(rubor, calor, dor e edema) são os sinais clássicos do que costumamos chamar de inflamação.

Este mecanismo nada mais é que um esforço articulado do organismo para se autoreparar. Em resposta à agressão, o organismo orquestra uma série de respostas (aumento do fluxo sanguineo, deslocamento de células de defesa-leucócitos, produção de substâncias vasodilatadoras, etc)  visando ao controle da infecção por patógenos externos (bactérias, vírus, fungos, etc) e manutenção do equilíbrio interno(homeostase).
 Bem, esta é a inflamação que nós vemos. Este tipo de inflamação é benéfico e precisamos dela para sobreviver. No entanto as descobertas científicas tem apontado que este mecanismo pode perder o controle e se voltar contra nós mesmo. Um número cada vez maior de estudos apontam que a inflamação pode agir como precursora e afetar a evolução de muitas doenças crônicas, como doença cardio-vascular(infarto, AVC, trombo-embolismo, etc.), câncer, diabetes, obesidade, depressão, artrite , hipertensão arterial e Alzheimer. É como se cada organismo tivesse o seu “inflamostato”, ou seja um ponto de ajuste da inflamação. Para mais ou para menos. Infelizmente, devido a uma série de desequilibrios relacionados ao estilo de vida moderno(má alimentação, obesidade, sedentarismo, stress, infecções crônicas, poluição ambiental, alergias alimentares, etc) um número cada vez maior de indivíduos adquirem ao longo do tempo este estado “pró inflamatório”. A incidência crescente destas doenças crônico degenerativas só vem confirmar este dado.

Como saber se esta inflamação “oculta” pode ser um problema para mim?

Cada indivíduo deve ser avaliado detalhadamente em relação à presença e extensão de inflamação “oculta”. Isto requer uma historia clinica pormenorizada, hábitos alimentares, antecedentes clínicos, etc. Existe também um exame laboratorial relativamente simples chamado “PROTEINA C REATIVA ULTRASENSÌVEL”. Na ausência de processo infeccioso em atividade ele mede o grau de tendência do organismo à inflamação. Um estudo publicado no “American Journal of Medicine” em Maio de 1999, encontrou que em uma população considerada “sadia” de indivíduos idosos, níveis mais elevados de proteína c reativa e interleucina 6 (marcadores de inflamação sistêmica) tinham uma probabilidade 260% maior de morrer nos próximos 4 anos. O aumento da mortalidade deveu-se às doenças cardiovasculares e outras causas.

A detecção precoce de inflamação “oculta” pode ajudar você a prevenir o desenvolvimento de muitas condições negativas de saúde.

Qual a melhor maneira de abordar este problema?

O uso de drogas antiinflamatórias(aspirina, ibuprofeno, etc.) e corticóides como a predinisona-embora úteis em situações agudas- interferem com vários sistemas do organismo e podem levar a complicações sérias, inclusive óbito. De fato, mais pessoas morrem por ano por uso de antiinflamatórios que de doenças como asma ou leucemia.

É importante compreender que este conceito de inflamação não deve ser atribuído especificamente a nenhum órgão ou mesmo especialidade médica. De fato, se você pesquisar qualquer publicação médica nas mais variadas áreas do conhecimento médico, você encontrará uma infinidade de artigos apontando para a relação inflamação-doença em variados órgãos e sistemas.

Certamente, entre as alternativas mais efetivas para lidar com este problema encontra-se a ESTRATÉGIA NUTRICIONAL, associada a intervenções no estilo de vida. No que diz respeito a isto, destacarei aqui 4 medidas básicas.

1.   Redução do sobrepeso/Obesidade: Hoje compreendemos que a massa de gordura corporal, principalmente aquela localizada na região do abdômen funciona como um reservatório de inflamação. Daí porque o diâmetro da cintura tem correlação direta com a incidência de doença cardiovascular. Segundo os critérios mais recentes da Federação Internacional de Diabetes, uma circunferência abdominal(medida à altura da cicatriz umbilical) ≥ 94 cm para o homem e ≥80 cm para a mulher já aumenta significativamente a incidência de de doença cardiovascular e diabetes nestes individuos.

 

2.   Correção do desequilíbrio típico de nossa cultura alimentar ocidental no que se refere à desproporção entre o consumo de gordura poliinsaturada Ômega6/Ômega 3. Segundo os cientistas, a proporção ideal entre estas 2 gorduras seria em torno de no máximo 3:1. No entanto, em nossa dieta habitual esta proporção chega facilmente a níveis de  20:1 a 30:1. Isto se deve a consumo em muito maior quantidade de alimentos ricos em ômega 6(óleos vegetais-soja, girassol, canola,etc) que os ricos em ômega 3(salmão, sardinha, linhaça, etc). Isto leva a um desequilíbrio na formação dos mediadores inflamatórios (prostaglandinas, tromboxanos, etc) levando à formação maior de mediadores mais inflamatórios, principalmente as prostaglandinas do grupo 2(PGE2, PGF2, etc)

 

3.   Reduzir ao máximo o consumo de ácidos graxos do tipo TRANS(margarina, condimentos industrializados, frituras, etc). Hoje sabemos que a gordura trans é extremamente nociva para o coração, aumenta a taxa do colesterol ruim (LDL) e é a aterogênica.

 

4.   Atividade Física Regular: Um sem número de evidências científicas mostram que o exercício físico reduz inflamação. Também melhora o sistema imunológico, fortalece o sistema cardiovascular, previne e corrige a resistência insulínica e é fundamental para combater os efeitos do stress.

 
Concluindo, a inflamação pode estar na origem de muitos problemas de saúde. Existem maneiras efetivas de se diagnosticar e quantificar isto clinicamente. A estratégia nutricional aliada a modificações no estilo de vida pode prevenir e retardar a progressão de muitas doenças que têm a inflamação como pano de fundo.

Reportagem da revista "TIME" em edição de 2004 sobre a inflamação oculta: http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,993419,00.html

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