sábado, 5 de junho de 2010

Entrevista com Henry Okigami



Henry Okigami é farmacêutico, especialista em farmácia hospitalar, especialista em homeopatia, especialista em fitoterapia, consultor em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos na indústria farmacêutica, alimentícia e cosmética. Também é Diretor de pesquisa e desenvolvimento da Science Solution – Soluções em revestimento e nanotecnologia.

1.    Henry, um tema freqüentemente abordado por você em suas palestras é a questão da suplementação de aminoácidos essenciais, ácidos graxos ômega 3 e outros nutrientes, e seus efeitos moduladores na produção de neurotransmissores cerebrais específicos com repercussões no comportamento humano. Existe então uma “Dieta do bom humor”?

Eu diria que a dieta influencia nosso estado de humor. Imagine você que os principais neurotransmissores , dopamina, serotonina, epinefrina e norepinefrina são derivados de aminoácidos essenciais. Para sua produção precisamos de cofatores dependentes de vitaminas e enzimas dependentes de oligoelementos. Além disso há estudos mostrando que a deficiência de nutrientes pode alterar o estado de humor. Nossa relação com o que comemos é extraordinária. Dependemos muito de nosso relacionamento com o meio externo. Podemos dizer, então, que há dietas que podem melhorar o controle do humor, e até dizer que algumas dietas podem torná-lo mais otimista ou mais pessimista.Tudo depende do estado de neurotransmissores no nosso cérebro. 
2.    Estamos observando atualmente um crescimento acelerado ,de proporções mundiais da Obesidade e doenças associadas(Diabetes, Hipertensão, doença cardiovascular, etc.). De que forma o estilo de vida moderno tem interagido com nossa genética para explicar este crescimento da obesidade?
 
Bem, os estudos mostram que o ser humano foi selecionado para ser um animal que acumula energia. Imagine que quando nós aparecemos na face da terra o alimento era escasso. Daí nós fomos selecionados com base em nossa capacidade de comer mais, quando havia mais alimentos, e armazenar na forma de tecido adiposo ou gordura para épocas de escassez. Junte-se a isto o fato de que o alimento, além de ter uma disponibilidade mais fácil, também foi alterado em sua composição. Hoje em dia nossa dieta é mais rica em carboidratos simples, coisa que não ocorria nos tempos antigos. Também ingerimos carboidratos demais. Além disso, a agricultura moderna prioriza produzir mais, e não mais qualidade. Tudo isto  leva a um descontrole metabólico que nos leva a ingerir mais alimentos. Some o fato de que nós temos uma carga genética que predispõe à obesidade, mais alimentos altamente calóricos e de baixa qualidade, a tendência é ingerirmos mais alimentos e nos tornarmos obesos.

3.    Um dos temas bastante explorados na pesquisa científica ultimamente tem sido a questão da Inflamação como via metabólica comum de muitas das chamadas doenças modernas(diabetes, doença cardiovascular, Alzheimer, câncer, etc.). O que você tem a dizer sobre isto?

A inflamação está presente em quase todos as patologias conhecidas. Diferentemente do que se fala, a inflamação geralmente é causa de um distúrbio metabólico que pode ter causas múltiplas. Se corrigido o distúrbio metabólico, a inflamação pode regredir. Porém, devido ao desequilibrio multifatorial, tendemos sempre a ter uma inflamação em nosso corpo. Vamos pegar um exemplo... a depressão. A depressão tem um componente inflamatório que pode piorar o quadro clínico da depressão. O tratamento da depressão e da inflamação ao mesmo tempo pode acelerar a melhora do paciente. A inflamação é um alvo em inúmeras doenças como Alzheimer e doeça cardiovascular, mas não é a causa primária. É uma consequência da doença já estabelecida, e como tal deve ser considerada quando abordamos o tratamento.
4.    Uma grande preocupação mundial para os próximos anos tem sido o problema dos contaminantes químicos ambientais e suas repercussões na saúde humana. Neste contexto temos os resíduos de metais tóxicos. Quais os reais perigos destes contaminantes?

As conseqüências dos contaminantes ambientais ainda estão sendo mensuradas no ser humano. Sabemos que há conseqüências terríveis que tem sua gravidade associada ao nível de contaminação. Quanto maior a contaminação, pior a conseqüência. Mas, mesmo em quantidades consideradas normais, alguns contaminantes causam distúrbios bioquímicos no corpo, que refletirão num futuro, em prevalência maior de doenças, ou até estabelecimento de doenças dependentes destes contaminantes. Peguem o selênio como exemplo. Excesso de selênio é associado a ganho de peso. Falta de selênio é associado a ganho de peso. Excesso de chumbo altera as funções cognitivas, mesmo nos níveis aceitos pela organização mundial da saúde. Há que se considerar a sinergia entre os contaminantes. Imagine um individuo contaminado por múltiplos contaminantes que atuem num mesmo processo bioquímico, o que devemos considerar é a soma da toxicidade e não um produto isolado. O fato é que nós seres humanos somos predadores e destruimos nosso ambiente. Eu sempre falo que nós jogamos um monte de porcaria no ambiente e depois temos que limitar a ingestão, respiração e contato com aquelas porcarias.
5.    Tenho informação de que você está envolvido em pesquisa de ponta na área do câncer. Qual o futuro do uso de substâncias “naturais”(nutrientes, fitoterápicos, minerais, etc) no tratamento do câncer?

Acredito que não só o tratamento, como a prevenção de câncer, passe por muitos produtos naturais. O ponto principal no tratamento do câncer é focar a diferença entre a célula cancerigena e a célula normal. Há 20 anos estudo bioquimica da célula neoplásica. Hoje há uma tendência grande em se mirar alguns alvos especificos na célula neoplásica, alguns passos bioquimicos que estão associados à hiperproliferação. Ainda há muito o que se evoluir nesta área. Assim como a quimioterapia e a radioterapia tradicional, produtos naturais terão seu papel nessa luta contra o câncer, porém cabe a ciência esclarecer este papel.

Agradecemos a gentileza do henry em atender a esta entrevista para o nosso blog.  O henry mantém um blog de ciência cujo link está disponibilizado abaixo.

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