terça-feira, 25 de maio de 2010

Comércio e indústria de alimentos investem bilhões em publicidade para induzir nossas crianças a comer o que eles querem

 
 Ninguém de sã consciência pode duvidar do progressivo empobrecimento dos hábitos alimentares de nossas crianças. Embora não trabalhe especificamente com este público, freqüentemente sou solicitado a prestar assistência a filho(a)s de pacientes que estou tratando. Quando solicito um recordatório alimentar semanal, ou seja, aquele tipo de inquérito em que o indivíduo registra tudo que come, inclusive a quantidade, fico realmente entristecido ao ver a quantidade de jovens que, ao final de uma semana, não consumiram nem ao menos uma porção sequer de frutas e/ou verduras.
Nos EUA, o relatório “Marketing de alimentos para crianças e adolescentes: uma revisão das despesas , atividades e auto-regulação das indústrias”, apontou que a propaganda de comida para crianças está integrada a campanhas publicitárias que associam a mídia tradicional, como a televisão e cinema, com as mídias impressas em embalagens, cartazes, revistas e até internet.
Muitas vezes a propaganda é subliminar. Quando a criança vê o seu herói, como Bob esponja ou outro personagem de desenho animado ou filme, comendo um hamburger com fritas e refrigerante, fica em sua mente o reforço positivo para aquele comportamento.
Segundo o relatório, uma das estratégias deste comércio tem sido o que ele chama de “marketing promocional cruzado”. Este tipo de marketing tem sido comum nos últimos anos, fazendo ligação de alimentos e bebidas a um sem número de filmes, shows de televisão, e personagens animados que apelam diretamente à criançada. Filmes como “o retorno do super man” e “Piratas do Caribe” serviram para promover campanhas em redes de fast food, pipocas em redes de cinema, cereais, refrigerantes, doces, etc.
Em termos de onde o dinheiro da propaganda está sendo gasto para conquistar as crianças, o relatório aponta que “a propaganda de televisão ainda domina o panorama.  As companhias gastaram em 2006 cerca de $745 milhões de dólares neste tipo de mídia. Mais de 50% dos anúncios televisivos foram direcionados a crianças com menos de 12 anos. Para este público predominaram os anúncios de cereais de caixinha e cadeias de fast food.”
Cada vez mais observamos propaganda de alimentos para crianças com o fim de fazê-las presas de alimentos indesejáveis com alto teor de sal, açúcar, gorduras trans e aditivos químicos. Crianças em idade escolar que assistem mais televisão tem mais probabilidade de desenvolver hábitos ruins de alimentação nos próximos 5 anos. Esta foi a conclusão de um estudo de pesquisadores do estado de Minnesotta, que envolveu quase 2000 crianças em idade escolar. Os autores encontraram que crianças que assistiam mais de 5 horas de televisão por dia, tiveram  menor ingestão de frutas, verduras, grãos integrais e alimentos ricos em cálcio; e maior ingestão de petiscos, alimentos processados, frituras, bebidas açucaradas e gorduras trans, 5 anos mais tarde.
Embora as crianças possam ter consciência de que muitos dos produtos anunciados na televisão não são saudáveis, elas podem ignorar as conseqüências que estes alimentos podem ter  na saúde e até na aparência pessoal, já que os atores e personagens associados a estes alimentos nos comerciais geralmente são atléticos e têm boa saúde.
Eu considero que a melhor estratégia para combater o erro e a “mentira” é promover a verdade. Como pais, primeiro temos que dar o exemplo. Criança só come o que os pais compram. E devemos aprender a resistir às “chantagens” emocionais que eles sabem bem utilizar. Também, o período do primeiro ao terceiro ano de vida, eu considero a janela de oportunidade para plantar bons hábitos. Neste período a criança estabelece suas preferências alimentares. Os pais devem apresentar os sabores dos diversos legumes e frutas separadamente antes de misturar tudo nas sopinhas, papas, etc. Limitar o tempo da criança em frente da televisão também é uma medida saudável. Há algum tempo vi um estudo que também associava o tempo gasto em televisão a um maior risco de fraturas em crianças. Isto se explica porque a criança que passa mais tempo em televisão (ou vídeo game) desenvolve menos habilidades espaciais e motoras e está mais sujeita a quedas.

Fontes

1. Daheia J Barr-Anderson, Nicole I Larson, Melissa C Nelson, Dianne Neumark-Sztainer and Mary Story. Does television viewing predict dietary intake five years later in high school students and young adults? International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, (in press). http://www.sciencedaily.com/releases/2009/01/090129213436.htm

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